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Artigo: Violência do ser humano

Violência do ser humano


14/10/2010 09h51

* Luiz Celso Alves Gomes

Existe uma crescente onda de violência explícita e gratuita entre os seres humanos, sejam eles de qualquer classe social. Esqueçamos o que muitos sociólogos e antropólogos do passado comparavam a pobreza, miséria e ignorância como sendo um produto das classes menos favorecidas. Estamos falando da violência que um indivíduo pode proporcionar ao outro.

Estamos nos acostumando cada vez mais com a violência que é praticada nos grandes centros urbanos. O que está acontecendo é justamente a “normalização da violência”.

É “normal” jovens e crianças assaltando em semáforos da cidade. É “normal” cada vez mais jovens morrendo mais cedo por causa do tráfico de drogas. É “normal” assistimos lutas de gangues em bailes funk. É “normal” vermos mendigos e miseráveis nas ruas dos grandes centros. É “normal” o desemprego porque faz parte do capitalismo. É “normal” existir ricos e pobres.

Ao contrário do que muita gente imagina alguns casos de violência entre os jovens nem sempre são exclusivamente de classes pobres. Também percebemos que a cada dia surgem casos e mais casos de pessoas moradoras de bairros nobres e com uma vida privilegiada, porém também costumam aparecer nas manchetes de jornais.

Podemos observar isso em certos grupos de jovens de classe média, que geralmente nunca andam sozinhos. A única busca pelo prazer desses jovens é ir de encontro a outros grupos com o intuito de simplesmente entrar em alguma confusão, seja na porta de bares, danceterias, academias ou mesmo próximos às escolas. Esses rapazes, em forma de gangues, buscam incessantemente uma boa briga para colocar seus dotes físicos e marciais à mostra para a sociedade. Da mesma maneira que existem gangues em periferias, também há formação de gangues em grupos que simplesmente levam uma vida financeira que não podem reclamar.

Atualmente, não são apenas os jovens da periferia que são associados à violência social-urbana. A burguesia também participa dessa violência explícita, muitas vezes sem nenhum motivo aparente ou mesmo por motivos banais.

Logicamente existem boas razões como dinheiro para drogas ou mesmo por problemas familiares que mexem com o psicológico desses jovens. Mas uma coisa é certa, seus crimes são tão hediondos quanto os dos menos favorecidos.
O que geralmente é divulgado na mídia é o assassinato de jovens de classe média alta em nossa sociedade. A mídia faz estardalhaço quando esses jovens morrem brutalmente, mas se esquecem que, diariamente, jovens da periferia são mortos também. O que dá mais ibope e maior repercussão nacional? O que choca mais a população, rendendo semanas seguidas de noticiários? A morte de jovens de classe mais favorecida muitas vezes rende várias passeatas e manifestações a favor da paz, e, contraditoriamente, por outro lado, também rende mais adeptos do não-desarmamento da população.

Nós, seres humanos, tornando-nos mais e mais individualistas perdemos nossa noção de sensibilidade quando deparamos com a violência veiculada nos jornais e tevês. A tragédia já não nos choca tanto. Um crime se torna banalidade do dia a dia. A guerra vira apenas uma mera contagem estatística de mortos e feridos. Uma simples cena de amor numa novela nos faz chorar muito mais que centenas de mortos todos os dias nos noticiários.
Assim, esses indivíduos que geram violência, colaboram explicitamente para a própria reclusão do ser humano, tornando uma sociedade individualista e receosa de sua própria humanidade.

*Advogado, Secretário e Presidente da Comissão de  Direitos Humanos e Assistência Judiciária da OAB/RJ, Presidente do Conselho Comunitário da VEP/RJ.

Publicado no Jornal O Diário de 14/10/2010.


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